Olhos que condenam
Lançado em maio de 2019 pela Netflix, a minissérie Olhos que condenam foi sucesso de público e crítica. A obra foi idealizada, dirigida e produzida pela diretora estadunidense Ava DuVernay, que ficou mundialmente conhecida pelo excelente trabalho no filme Selma, cinebiografia do Martin Luther King e que lhe rendeu uma nomeação ao Oscar de Melhor Filme, sendo a primeira mulher negra da história a ser nomeada nessa categoria.
Baseados em acontecimentos verídicos a série conta a história de cinco jovens que são injustamente acusados de estupro pelo estado de Nova York. Em 19 de abril de 1989, um grupo de jovens negros oriundos do bairro do Harley vão até o Central Park para participar de uma “aruaça”, enquanto os jovens estão em uma ponta do parque, na outra uma jovem é estuprada e posteriormente encontrada por policiais, que iniciam uma busca pelo lugar e decidem prender os meninos, já que estavam no local no momento.
Desde o início a polícia nova yorkina entende os jovens como culpados, necessitando apenas de uma confissão, porém essa confissão não chega. Utilizando de técnicas de tortura mental, promovendo a exaustão física e mental até finalmente conseguirem uma confissão.
O fato é que nunca houve provas concretas em relação a culpa dos jovens, a então promotora de justiça da Procuradoria Distrital de Nova York, Elizabeth Lederer entendia que havia vários furos, porém, absolver os garotos seria desmentir publicamente e Estado de Nova York.
Os jovens foram sentenciados com penas de 6 a 13 anos.
Em 2002 o verdadeiro culpado Matias Reyes confessou o crime.
Racismo
A série retrata a maneira na qual o racismo está estruturado na sociedade estadunidense, inclusive o título original em inglês seria uma tradução livre-”Quando eles nos veem”- eu nessa sentença seria o “sistema” norte-americano. Mesmo não tendo provas concretas sobre o ocorrido os jovens foram presos, passando a transição da juventude para a vida adulta na cadeia.
No período o caso foi de extrema audiência para a mídia, mas além disso o caso inflamou o debate público sobre pena de morte nos Estados Unidos, onde o grupo defensor argumentava que os bairros pobres (em grande maioria composto por negros e latinos) estavam extremamente perigosos e essa violência estava alcançando níveis gigantescos, portanto a pena de morte seria uma maneira de coibir essa violência. Donald Trump era um dos favoráveis para a pena de morte em Nova York e inclusive chegou a injetar mais de US$ 80 milhões em jornais locais para propagar a ideia, além disso Trumpp foi um dos mais críticos em relação ao crime dos jovens, ou melhor, o suposto crime.
A forma que se organizou o estado de Nova York para sentenciar os garotos, demonstra justamente a ideia de um racismo institucional, ou seja, em uma camada onde “todos são iguais perante a lei” o tom de pele e a condição socioeconômica foi o principal fator para o julgamento.